segunda-feira, 4 de julho de 2016

Epifania

Uns acreditam por medo, a maioria, talvez; outros dizem abertamente que não acreditam no acaso e que a vida não pode acabar com um simples escorregão na beira da piscina ou dias depois da mordidinha de um mosquito. Portanto, tem que existir.
Entre os que acreditam há os que se revoltam contra aqueles que não acreditam. Chegaram a me perguntar: “Por que? Que provas você tem para não acreditar?” Veja que absurdo, é quase o mesmo que exigir de um inocente que ele prove que não cometeu o crime.
Algumas convicções beiravam o cinismo (sem preconceitos contra os cínicos, eu mesmo me considero um dos bons). Foi o caso de uma senhora, bem velhinha, amiga de minha mãe: “Você não acredita, meu filho? Olhe lá, nunca se sabe o dia de amanhã...”. Só faltou piscar o olho e confessar: “Eu também tenho minhas dúvidas, mas não as revelo a ninguém, tem muita maldade nesse mundo.”
Tem muita maldade nesse mundo, por isso tem de haver uma força do bem, poderosa e invencível, será que essa é a lógica da maioria?
“Faz o seguinte: embarca num monomotor em Manaus, depois de uns quarenta minutos sobrevoando aquele oceano vegetal, o motor começa a gaguejar, você fecha os olhos e … aí é que eu quero ver essa dúvida de intelectualzinho saltar de paraquedas”, isso ninguém me disse cara a cara, estava escrito no cartão postal com a vista aérea da floresta amazônica. Quem mandou o cartão? Sei lá… Um tal de Agostinho Santos, nome falso, é claro, acho que não era Agostinho, muito menos Santo, mas o que ele (ou ela) escreveu fazia sentido, na hora do pega-pra-capar porco dá cambalhota no terreiro.
Quanto de nossas preocupações decorre de problemas alheios, que não podemos resolver, porque não são nossos, nem tampouco ignorá-los, porque também nos afligem?
A razão tem suas forças, que costumam perder com frequência a razão de tudo. Não era pra terminar assim, mas se me dessem o direito de fazer uma única pergunta, acho que diria, apontando para uma enorme pilha de dinheiro: “Como o nada e tudo isso podem ser a mesma coisa?”
(Outro dia assisti a uma conversa que envolvia gente da ciência, não guardei o nome de ninguém. Lembro que um deles disse que estava reconsiderando sua posição de ateu porque a+teu significa negar a existência de deus e a ciência não pode provar sua inexistência. Fiquei pensando que o cientista deveria levar em conta que a base do ateísmo e do agnosticismo é não aceitar o dogma religioso que tem por princípio a incontestável existência de deus. Nada contra aqueles que acreditam, mas, como disse Santo Agostinho em meados do Séc. IV DC, jamais será possível provar a existência de deus através da razão. Somente pela revelação, ou iluminação, alcança-se a fé. A vida está cheia de dúvidas que são propostas pelo conhecimento humano, e não será esse conhecimento quem irá resolvê-las. Por falar em ciência, não foi graças à fé que a maçã caiu na cabeça de Isaac Newton)