sábado, 22 de agosto de 2015

Tempos Bicudos


Quando alguém procura combater o individualismo, o consumismo, o pragmatismo, a solução é sempre individual, como a meditação e a renúncia ao poder e à riqueza. O coletivo continua fatiado e silencioso, individualizado. Na teoria, ninguém é contra a liberdade individual, mas como ser a favor da liberdade coletiva? Como desmascarar a manipulação dos sempre muitos em favor dos interesses dos eternamente poucos? Ora, direis, a democracia... Aquela, do votinho na urna eletrônica de quatro em quatro anos? Não há saída? Então vamos dar com os burros n'água (enquanto água houver).


sábado, 16 de maio de 2015

Criadores e Criaturas

Nas relações interpessoais, sempre achamos que o Outro é a imagem que fazemos dele. Claro que não poderia ser de outra forma, a própria "realidade" não passa de uma sucessão de "realidades" que vamos assimilando ao longo da existência. O Outro muda; a realidade também. Nós, então... nem se fala.
A questão básica está no grau de confiança que projetamos nessa imagem que vem a se confundir com o Outro. É neste ponto que assumimos nosso papel de artífice, de criador, um segundo Deus, que, tal como o primeiro, certamente não erra. Criamos esse Outro, muitas vezes, à nossa imagem e semelhança. Não raro, inventamos qualidades, valores, virtudes que nada têm a ver com o que poderíamos chamar de "o Outro em si". Quem está só, julga encontrar a companhia "ideal": uma amizade sincera, a namorada fiel e apaixonada, o ombro amigo para todas as horas... Quando descobrimos que, infelizmente, o Outro não corresponde a tudo aquilo que nele projetamos, fazemos o quê? Culpamos o Outro! Nunca assumimos que o erro partiu da nossa pretensão de imitar algum Deus e sair por aí criando perfeições.
Voltamos à questão básica: a crença de que a perfeição é real e pode se materializar nas pessoas, objetos e fenômenos move todo esse universo de enganos e desenganos. Aprendemos desde criança que há um Deus e que ele é perfeito: onisciente, onipotente, onipresente. Quando tentamos imitá-lo, atribuímos a nós mesmos essas qualidades, sobretudo nas relações com nossos semelhantes: sabemos como eles são, temos poderes sobre eles (inclusive o de mudar, ou perdoar, pequenos defeitos que nos incomodam), estamos sempre presentes, quer eles queiram, quer não.
Para entender que as pessoas se transformam é preciso primeiro aceitar que elas não são aquilo que nós criamos. Pelo menos uma boa parte do Outro nos escapa, quando não o essencial.
Que tal inverter a premissa e concluir que nada, mas nada mesmo, é perfeito? Podemos dizer que nem a liberdade, depois de conquistada, é aquela que sonhamos. Mas, atenção! Convém não comparar a sua liberdade com a liberdade dos outros: nem tudo que você vê é aquilo que o outro tem.


Esse artigo ajudou você a entender melhor a confusa cabeça de alguém:
... SIM ... NÃO