domingo, 6 de janeiro de 2019

FRITO, COZIDO OU CRU (sem perninhas)?

Fn
Uma jovem, de seus vinte e poucos anos, me disse que encontrou um bichinho estrebuchando na sala de casa e que isso devia-se ao uso daqueles aparelhos elétricos, que atuam como repelentes de insetos. Eu não estava muito a fim de acusar, muito menos defender, baratas e mosquitos, mas também não queria deixar com a menina a última palavra sobre a nossa proverbial crueldade humana. Preferi uma explicação fantasiosa, disse que os insetos arriscavam-se demais ao se aproximar dos humanos, nem desconfiavam que seriam eles, os insetos, a principal fonte de proteína nessa derradeira etapa da nossa “evolução”. 
Surpresa, ela fez uma cara de nojo e jurou que nunca na vida ia comer um gafanhoto, nem um daqueles fritinhos nas feiras da Coreia ou da China. Já não estava defendendo as espécies que nós esmagamos, cada vez mais com o auxílio da tecnologia, agora o horror era a algo que podemos resumir em uma única frase: “A que ponto chegamos… ou chegaremos”.
Me deu vontade de explicar que foi por isso que resolvi parar de escrever, a certeza de que  caminhamos para o fim dos tempos e, portanto, nada, nada mesmo é imortal, além da luta pela sobrevivência. “Quanta pretensão...”, ouvi alguém dizer indignado. Escaneei a sala pra ver de onde partira o comentário. Ninguém, nem a jovem que saíra para uma reunião da ONG “Defenda Seu Bicho”, o único ser vivo na sala era uma risonha e temerária borboleta.