quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Só Sei Que...

(O texto abaixo de certa forma contesta o texto acima. Isso que é bom. Na dúvida...)


Não me preocupo com respostas. Me interessa, isso sim, formular as perguntas, não as certas, pois neste caso não há certo ou errado, pergunta é só pergunta, venha de onde vier. As respostas são outro departamento, envolvem quase sempre uma escolha, um julgamento, e isso não é comigo. Chamem os promotores, os juízes, os mediadores, aquela gente lá que tem sempre uma resposta pronta, antes mesmo que alguém coloque um ponto de interrogação no final da frase. Como assim? Abram suas cabeças para ver: as respostas lá estão, todas elas entrincheiradas, arrumadinhas nas prateleiras mentais, à espera de que alguma infeliz pergunta se aventure.
Todo mundo conhece gente que tem resposta pra tudo, certo? Agora, duvido que você já tenha ouvido falar de alguém que tem pergunta pra tudo, a não ser as crianças, é ou não é? Pois é nisso que eu quero me transformar. Não em criança, é claro, mas no cara que sabe fazer a pergunta certa, no momento exato, sem falsos pudores nem moralismo hipócrita. Ainda chego lá, não me pergunte quando, nem como, muito menos pra quê. Para entrar no Guiness é que não há de ser.

Quer um exemplo? Uma inocente perguntinha pra acabar com a lenga-lenga?  
Uma vez perguntei a uma jovem professora: “Pra você, o que fala mais alto no ser humano, o instinto de sobrevivência ou aquilo que aprendemos a amar ou a detestar durante toda a nossa vida?”
Eis que a professora ficou um tempo me olhando, talvez sem entender onde eu queria chegar. Resolvi dar uma ajudinha: “Sabe aquele roedor, eternamente injustiçado, desprezado, rejeitado por nós humanos? Ele mesmo, o rato, sabe? Não estou falando do Mickey ou daquele simpático ratinho cozinheiro do Ratatouille. Refiro-me ao rato ou à ratazana de verdade, aquele bicho preto ou cinzento, de rabo comprido, que vive metido em esgotos e cavernas, que de madrugada rói os pés das crianças nas favelas, sabe?” 
“Pois bem - perguntei olhando diretamente nos seus olhos já assustados -, você acha que seria capaz de resistir à tentação de devorar um deles diante de uma fome avassaladora?”
A professorinha respondeu com a fome de hoje, ou seja, nenhuma: “Prefiro morrer a simplesmente pensar nessa hipótese. Meu instinto de sobrevivência não sobreviveria ao nojo, ao asco, que eu sinto só de imaginar, argh...”, disse ela.
Pois sim... pensei eu, mas não disse.
Não entro em detalhes para não magoar quem já teve alguém que passou ou ainda passa por isso, nunca se sabe.
Mas, voltando ao tema lá de cima, as melhores perguntas são essas: as que deixam donos-da-verdade com cara de quem comeu e não gostou, eu, hein...