quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Bullying e Outras Bandidagens

Fn

Considerando-se como válida a divisão antagônica entre bons e maus, não queiram transformar maus em bons, nem, é claro, bons em maus. 
Por quê?
Desçamos ao bullying. Todos sabemos que a moral erguida a partir da mitologia judaico-cristã privilegia os bons, assegurando a sua “superioridade”.
No entanto, experimente catequizar um praticante ativo do bullying, tentando convencê-lo a mudar de lado, isto é, deixando de ser mau para ser bom. Jamais conseguirá. Provavelmente vão rir de você, aberta ou veladamente, de acordo com o poder que você exerce sobre ele. 
Na cabeça de alguém que pratica o bullying, o bonzinho é um perdedor, autêntico loser, para usar mais uma vez a nomenclatura que copiamos dos nossos tutores. Ele, o mauzinho, é o vencedor, o verdadeiro winner, basta ver como é temido e respeitado - nas escolas, nas ruas, nos clubes, nas favelas... 
Passar de mau a bom significa escolher para si próprio a posição de vítima, alguém que sofrerá todas as torturas e humilhações que ele hoje impinge aos bonzinhos. Quem se candidata?
Como acabar com o bullying ou pelo menos reduzir seu poder de fogo?
Na primeira vez, advertência; na segunda, suspensão; na terceira, RUA!
Rigor é a palavra. Deve ser usada sempre com justiça; nunca com a falsa piedade, muito comum em quem chama para si parte da “culpa”.
Aplique-se nas escolas, nas empresas, no dia-a-dia do tal mundo real. Deixemos de lado os argumentos vazios de padres, pastores e outros hipócritas e condescendentes. 
Algumas instituições podem ter prejuízos materiais com tal rigor? Certamente. Mas isso pertence ao mundo do marketing e dos bons negócios. Foge ao escopo do presente texto. 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Só Sei Que...

(O texto abaixo de certa forma contesta o texto acima. Isso que é bom. Na dúvida...)


Não me preocupo com respostas. Me interessa, isso sim, formular as perguntas, não as certas, pois neste caso não há certo ou errado, pergunta é só pergunta, venha de onde vier. As respostas são outro departamento, envolvem quase sempre uma escolha, um julgamento, e isso não é comigo. Chamem os promotores, os juízes, os mediadores, aquela gente lá que tem sempre uma resposta pronta, antes mesmo que alguém coloque um ponto de interrogação no final da frase. Como assim? Abram suas cabeças para ver: as respostas lá estão, todas elas entrincheiradas, arrumadinhas nas prateleiras mentais, à espera de que alguma infeliz pergunta se aventure.
Todo mundo conhece gente que tem resposta pra tudo, certo? Agora, duvido que você já tenha ouvido falar de alguém que tem pergunta pra tudo, a não ser as crianças, é ou não é? Pois é nisso que eu quero me transformar. Não em criança, é claro, mas no cara que sabe fazer a pergunta certa, no momento exato, sem falsos pudores nem moralismo hipócrita. Ainda chego lá, não me pergunte quando, nem como, muito menos pra quê. Para entrar no Guiness é que não há de ser.

Quer um exemplo? Uma inocente perguntinha pra acabar com a lenga-lenga?  
Uma vez perguntei a uma jovem professora: “Pra você, o que fala mais alto no ser humano, o instinto de sobrevivência ou aquilo que aprendemos a amar ou a detestar durante toda a nossa vida?”
Eis que a professora ficou um tempo me olhando, talvez sem entender onde eu queria chegar. Resolvi dar uma ajudinha: “Sabe aquele roedor, eternamente injustiçado, desprezado, rejeitado por nós humanos? Ele mesmo, o rato, sabe? Não estou falando do Mickey ou daquele simpático ratinho cozinheiro do Ratatouille. Refiro-me ao rato ou à ratazana de verdade, aquele bicho preto ou cinzento, de rabo comprido, que vive metido em esgotos e cavernas, que de madrugada rói os pés das crianças nas favelas, sabe?” 
“Pois bem - perguntei olhando diretamente nos seus olhos já assustados -, você acha que seria capaz de resistir à tentação de devorar um deles diante de uma fome avassaladora?”
A professorinha respondeu com a fome de hoje, ou seja, nenhuma: “Prefiro morrer a simplesmente pensar nessa hipótese. Meu instinto de sobrevivência não sobreviveria ao nojo, ao asco, que eu sinto só de imaginar, argh...”, disse ela.
Pois sim... pensei eu, mas não disse.
Não entro em detalhes para não magoar quem já teve alguém que passou ou ainda passa por isso, nunca se sabe.
Mas, voltando ao tema lá de cima, as melhores perguntas são essas: as que deixam donos-da-verdade com cara de quem comeu e não gostou, eu, hein...  

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dicionário Marciano

f.n.


BEIJO: Substantivo comum, masculino. Originalmente, ato de encostar os lábios no rosto de alguém, acompanhado ou não por um estalido seco. Quando existe proximidade e/ou intimidade entre duas pessoas que se beijam, encostam-se também lábios nos lábios. Neste caso, se for um beijo apaixonado e consentido, as línguas poderão, eventualmente, se tocar, havendo a transferência de um líquido denominado "saliva" de uma cavidade para outra. O beijo possui vários significados. O "beijo de boa noite", por exemplo, ao contrário do que indica o próprio nome, não quer dizer que dará início a uma noite verdadeiramente boa. Há também o "beijo da morte", geralmente aplicado por um homem em outro homem, e comumente usado para selar o destino de um mafioso. Os gramáticos modernos consideram que o significado do vocábulo "beijo" vem sendo ampliado, em obediência à modificação dos costumes, chegando-se ao extremo de classificar como "beijo" a felação e a cunilíngua. Portanto, deve-se considerar como pertinente a este exemplo o pedido que alguns homens fazem às mulheres: "Posso beijar você toda?" O verbo beijar, no entender de alguns, está sendo empregado de maneira eufemística, pois esconde o verdadeiro significado do pedido, que seria "chupar" ou "lamber", atribuídos à linguagem chula. (pedidos do tipo: "Posso lamber, ou chupar, você toda?" não raro são acompanhados por uma reação bem diferente do beijo, que vem a ser o tapa na cara). Convém ressaltar que neste caso não há reciprocidade, uma vez que as mulheres não se sentem obrigadas a pedir permissão para iniciar suas atividades orais, sendo elas sempre bem-vindas. O beijo é dos cumprimentos mais antigos da humanidade, havendo cientistas que o identifiquem também em outras espécies, tais como o macaco, o cachorro e o bode, variando-se apenas o local onde ele é aplicado. A expressão "Dois bicudos não se beijam" atesta que, por exemplo, dois tucanos não devem coabitar o mesmo ninho, exceto em períodos eleitorais. Finalmente, não podemos esquecer de outro vocábulo, intimamente ligado ao beijo: o abraço, que consiste na junção dos corpos. Duas pessoas podem se beijar sem se abraçar ou se abraçar sem se beijar, contudo, quando se abraçam e se beijam algo mais pode estar por acontecer. Cumpre ressaltar que o beijo só pode ser dado por duas pessoas de cada vez, ao passo que um abraço pode envolver três ou mais humanos, sendo neste caso interpretado como simples comemoração ou uma autêntica "suruba". Para maiores informações, favor consultar os vocábulos Amizade, Namoro, Saudade e Cópula.    

   

domingo, 6 de junho de 2010

Vidinha

Fn


Entrou com os dois pés:

Posso saber por que anda falando mal de mim?
Falando mal de uma pessoa que eu nem conheço?
Ah, não conhece? Pois eu sou a Vida, muito prazer.
Mais ou menos.
Mais ou menos o quê?
O prazer... Hoje em dia tá mais pra menos do que pra mais.
Tá vendo? Já tá falando mal de mim novamente, outra coisa, entenda de uma vez por todas, não sou eu, a Vida, que tenho que lhe dar prazer, mas o senhor que deve ir atrás, entendeu?
Entendi, mas qual a razão do "senhor"?
Que "senhor"
O "senhor" a que a "senhora" se referiu, dona Vida.
Ah... Queria que eu lhe chamasse de você, ou de insaciável, como fazem as meninas do...
Psss, não vamos baixar o nível.
Está bem, você que sabe, voltando ao motivo da minha visita, do que você se queixa, amarga criatura?
Eu???? Quase nem me queixo de nada, Vidinha, tá certo que às vezes eu solto umas exclamações até certo ponto grosseiras.
Sei... aquelas do tipo: "Mas que Vida filha da puta!!!" é essa?
Desculpe, não queria ofender a jovenzinha.
Agora, na minha presença, diz que sou jovem, antes vivia me amaldiçoando, reclamando do tempo que passou rápido demais.
Bem verdade... mas, vem cá, Vidinha, não conheço ninguém que não reclame de ti, ao mesmo tempo em que te adoram, te acham maravilhosa, coisa e tal.
Esses são os que nunca irão me conhecer a fundo.
E o que você é de verdade? Lá no fundo, é boa ou má? Justa ou injusta? Amarga ou doce como o mel?
Nem umas coisas nem outras, não sou nada, e sou tudo ao mesmo tempo. Sabe aquela música: "Eu não existo sem você"? Então, é sempre você que é alguma coisa, percebe? Eu sou tua, e de mais ninguém.
Tá certo, é o único caso de fidelidade em que podemos acreditar de olhos fechados.
Como disse? Nada, nada... falava que acredito em você até de olhos fechados.
De olhos fechados por quê? Me acha tão feia assim?
Você??? Acho não... Até que olhando com atenção, você é bem jeitosinha, tem uns detalhes muito interessantes, ainda por cima, fiel, mesmo sabendo de tudo que a gente faz.
Posso ser mais ou menos interessante, depende do dia, Saci.
Que Saci?
Saci, de inSaciável.
Essa doeu, Vidinha, mas depende de que dia?
Do dia que você acorda naqueles dias, por exemplo, aí eu sou pior que uma longa entrevista da Xuxa com a Marília Gabriela.
Ahhhh...
Tá vendo? Se não acordou de mal comigo, tudo bem, me acha linda.
Se não é linda, pelo menos, bem degustável, deglutível, comível, vamos dar uma saidinha, traçar uns pastéis de feira, cousa e tal?
Podemos, mas você tem que me prometer que nunca mais escreve coisas como: "A vida é feita de desolações. Resolvi devotar meus dias a sua reflexão".
Mas não fui eu quem escreveu isso, foi um filósofo, Schopenhauer.
Já morreu?
Faz tempo.
Bem feito, perdeu a vida, falando mal da pobre.
Bora sair?
Ce que sabe...
Sei sim, se sei...

(Depois que os dois saíram abraçados do blog, alguém postou esse comentário nas entrelinhas: "Lá vai o cara... Conheço aquele olhar de peixe morto. Tá é a fim de foder com a própria vida")

quarta-feira, 5 de maio de 2010

BAKUNIN

"... O governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Mikhail Bakunin
(Faço minhas suas sábias e anárquicas palavras)