Fn
Vivo
no mundo das ideias. Portanto, sou um platonista, embora não
platônico (não no sentido que deram ao termo ao longo dos séculos).
Por
quê?
Acredito
sinceramente que toda ideia, qualquer uma, quando começa a se
materializar, a se cristalizar, desenvolve anticorpos para se
defender de outras ideias, já materializadas, que tentam destruí-la.
Me
entendam: utopia, por exemplo, é algo perfeito enquanto ideia. Tente
materializá-la e vai ver a encrenca que está criando.
Tem
mais: as ideias não são plásticas, resilientes. Uma vez materializadas, jamais
poderão retornar ao estado anterior de pura ideia.
Viver
assim como eu vivo tem suas vantagens e desvantagens: se pensar em ficar rico, por exemplo, como é só pensamento, não posso usufruir do luxo, do poder que o dinheiro oferece, mas, em compensação, continuo pagando o mesmo imposto de renda que pago hoje, ou seja, nenhum. Além disso, não preciso de guarda-costas, não tenho que me reunir com gerentes de contas, nem pensar em taxas, retornos, cardápios sofisticados...
Posso pensar em ser justiceiro, mas como é só pensamento, não há crime, ninguém fica sabendo desta "pequena" falha de caráter. A contrapartida é que os ladrões continuam assaltando impunemente pessoas e cofres públicos, a crueldade brota das telas para o mundo real, mas a Justiça continua lá, meio lerda, incerta, em muitos casos ávida por "incentivos" e "agradecimentos".
Não me culpem se ando um pouco pessimista, lembrem-se que o estado de espírito também não passa de uma ideia.
Não sei avaliar se é bom ou se é ruim viver desse jeito, mas este cálculo deixo para
os pragmáticos, que são muito bons de realidade, embora péssimos
de ideias.
Sorte
minha? Azar o deles? É o destino... que, no fundo, todo mundo desconfia que existe, mas nem todos querem confessar.