quarta-feira, 17 de outubro de 2012
domingo, 30 de setembro de 2012
Versão Para Teste
E disse o filósofo, milenar e transgressor, ao ser
surpreendido quando chupava uma uva negra na alcova de sua dileta escrava:
"A melhor hora pra se fazer uma coisa é quando não
pode".
Entra uma voz pelo seu ouvido esquerdo, atravessa trompas,
canais, circuitos, e, sem danificar o que já foi ali depositado, sai pelo
ouvido direito de alguém que não é, nunca foi você, tão nítida a frase que
todos poderiam repetir:
"Não tire suas imundas conclusões antes da hora".
Assim como a existência precede a essência, a aparência
antegoza o desfrute.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
A Idade da Emoção
"Não
existe amor", ele dizia. "O que existe é paixão e
amizade. Pode haver sexo entre amigos, mas quando não existe sexo
entre duas pessoas apaixonadas, aí sim começa o romantismo" (Delícia... Estamos sempre procurando esse recomeço?).
domingo, 16 de setembro de 2012
CURRICULUM VITAE *
Meu
caminho, não hesito revelar, é o da contradição. Profundo
conhecedor de coisa alguma, escolhi o nada acima de tudo.
Adoro
as palavras, em especial as sufocadas na garganta. Consciente em
todas as alucinações, sou marginal, pois vivo à margem, mas não
bandido ou trapaceiro (ao menos assim não me vejo).
Revoltado,
insurreto, esbravejante. Mas de índole meiga e de caráter
conciliador.
Se
tiver que tomar uma sábia decisão urgente, sou capaz de levar 72
horas para, afinal, escolher a temerária.
Humilde,
arrogante, impulsivo, ponderado. Aceito ir à guerra, mas só se for
pela paz.
Sou
ótimo para escapar de labirintos inexistentes, mas incapaz de sair
dos que eu mesmo construí.
Misterioso
e transparente - às vezes bondoso, outras vezes cruel -, amo a
verdade, embora perceba que ela está sempre disfarçada entre
mentiras e subterfúgios. Difícil alcançá-la. Mais
difícil ainda aceitar que não é minha propriedade.
Não
acredito em nada, muito menos na descrença. Convicto? Só de uma
coisa: duvido de tudo (a tal ponto que nem das minhas próprias
dúvidas tenho eu certeza).
Fn
* Enviado a dezenas, talvez centenas, de empregadores, ainda não obtive sequer uma única proposta de emprego.
sábado, 25 de agosto de 2012
sábado, 11 de agosto de 2012
Da Série: "Não é lei, mas não é raro acontecer" (Clique para abrir o post)
Com
o passar do tempo, enquanto o homem perde a vergonha, a mulher perde
as esperanças de mudar o sem-vergonha.
Foto: The Honest Courtesan
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Fragmentos, pedaços, cacos...
Fn
Na última vez que o entrevistei vi que seus olhos já estavam
indiferentes ao que se passava à sua volta; ou melhor, à nossa
volta; ou ainda, à volta de qualquer coisa na vida.
Pra falar a verdade, ele mastigava minhas perguntas e em seguida
cuspia as respostas, secamente. Como se as novidades estivessem por
ali há uns dois mil, dois mil e quinhentos anos, no mínimo.
Pedi que me descrevesse sua atual condição de vida. Em resposta
lançou-me um olhar perdido e deixou escapar que não ia continuar
falando sobre aquilo que todos gostariam de ouvir. Depois disse, alto
e bom som: "É isso que esperam? É isso que não terão..."
Senti que o vazio ameaçava tomar conta do espaço que ocupávamos.
Esse mesmo vazio poderia preencher o assoalho de tábuas enegrecidas,
depois contaminaria os afrescos, envolveria os vitrais, sairia porta
afora, infectando o átrio, avançando sobre o cenário de falsas
montanhas e atmosferas nebulosas.
Providencial foi ouvi-lo dizer: "Cuidado! Tudo o que escrever
aí nesse caderninho pode virar uma ou várias estórias - pistas,
pegadas - por menos que uma frase se encaixe na outra."
Sorriu, e através desse sorriso percebi sua ironia: as frases
escritas, os sons gravados na memória, as imagens retidas como
fantasmas, nada iria se encaixar, a ponto de tecer uma estória,
qualquer estória, por mais que eu tentasse.
Perguntei qual a razão maior de todos os lamentos, e ele se referiu
à perda de tempo, com um certo fastio. Pelo que entendi, era uma
perda de tempo dividir esse mesmo tempo em pedaços desprezíveis,
pequenos fragmentos, que passavam a ter uma vida independente do
tempo maior, o indivisível, e que por si só abriam caminho para a
falsa eternidade. Tentei perguntar se existiria alguma "eternidade
verdadeira", mas um simples bocejo me desencorajou.
Em seguida, voltou a falar sobre o rio, o tal que nunca é o mesmo,
embora idêntico a tantos outros. Aí residiria um dos caminhos para
escapar de armadilhas perigosas e recalcitrantes: aceitar que algo
pode ser igual e diverso ao mesmo tempo. A ilusão é quem muda a
essência e dá origem ao vício - o vício de estar sempre
imaginando opostos, supervalorizando diferenças, contrapondo,
medindo, avaliando. "O próximo passo é julgar, escolher ao
lado de quem você quer se esconder neste exato momento", disse
ele.
Queria saber se a solidão não lhe era pesada, se não se sentia
mal assim tão isolado, mas pelo olhar cheio de vida que me lançou
concluí que sozinho estava eu, não ele. Se naquele momento surgisse
um espelho entre nós dois, era bem capaz de reconhecer que, não só
a solidão, mas também a tristeza, o fastio, o desinteresse, não
passavam de projeções que eu mesmo enviava e recebia de volta, a
título de resposta.
Espontaneamente, criticou o egocentrismo - eterno, incurável. Disse
que somos formigas com complexo de elefantes.
"Todos nós? - perguntei - Seus filhos?"
Foi o sinal para que desandasse a enaltecer mãos, dentes, palavras,
suspiros, impulsos, pecados, magias...
Com um simples gesto, descortinou o horizonte. Coloriu o céu e a
terra, cada canto do quadro com sua própria tonalidade - exclusiva,
mutante.
Passei tanto tempo admirando as cores que não cheguei a perceber
que ele se fora. Acordei ali mesmo, à sombra de uma nuvem branca
encobrindo o sol, disposto a escrever no caderninho suas últimas
palavras, que um dia ainda irei lembrar.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Sessão Pano Rápido
Episódio
de hoje:
“Pra
bom entendedor, meia palavra é pho...”
(Todas as falas em off)
Luís
Marcelo:
“Você
acha que o teto tá precisando de uma ou duas demãos?”
Marietinha:
“Uma
demão só resolve, acho eu.”
Luís
Marcelo:
“Você
tem passado água sanitária pra tirar as manchas, Mari?”
Marietinha:
“Dona
Consuelo que mandou...”
Luís
Marcelo:
“Não
fala o nome dela que eu sou capaz de broxar.”
Marietinha:
“Acaba
logo com isso, homi de Deus. Vai que sua mulher entra por aquela
porta e surpreende nós dois nesse entra-e-sai, até ouvi uns
barulhos...”
Luís
Marcelo:
“Pronto,
broxei... Era isso que você queria, né?
Marietinha:
“Eu
hein... Dá licença, seu Luís, desafasta que eu tenho que me
vestir. Broxou tá broxado. Cada um que me aparece...”
SINOPSE:
Take único: CÂM explora o teto de um quarto, pintado de branco e
com diversas manchas na pintura. Diálogo em off. CÂM se afasta em zoom lento e só então percebe-se na pintura do teto a
imagem de um anjo, desbotado e com as asas amareladas. CAM em
movimento rápido enquadra ator nu sobre a atriz, também nua,
tentando se desvencilhar.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Pornografia Relativamente Romântica (Conteúdo Adulto)
"Tive um sonho."
"Bom ou ruim?"
"Ruim, péssimo."
"Sonhou com quê?"
"Boceta, aliás, bocetas, dezenas, centenas..."
"E acha que foi pesadelo???"
"Claro, todas fugiam de mim. Corriam e gritavam, umas com as outras: 'Fujam, meninas, fujam, lá vem o bocetófago'."
"Pelo menos tá com a fama intacta."
"E de que adianta? É como você passar o dia dos namorados no telefone, mas atendendo reclamações no call-center."
"Ahahaha... frustrante."
"Pior, decepcionante. Acha que isso se deve ao meu romantismo?"
"Isso o quê? O call-center ou as bocetas em fuga?"
"O sonho. Pesadelo, melhor dizendo."
"Não sei, pode ser. 'Bocetas em fuga' dava um bom título pro cinema pornô, quer escrever o roteiro?"
"Pode ser, mas só se você contratar a Carla Mara pro papel principal."
"Pronto, lá vem você com a Carla Mara de novo. Esquece, cara. Já te falei que ela largou tudo, casou e se mudou pra Sergipe, Aracaju, Maceió... algo assim."
"Tá vendo a minha sina?"
"Pois é, mais uma que foge, dessa vez para sempre."
"É no que dá ser romântico..."
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